O inimigo do jogador do Tribunal do Júri é o ego.

O Tribunal do Júri não é e jamais será para amadores. Quem entra em Plenário para a realização de uma defesa ou a acusação de alguém, deve estar preparado para um jogo completamente diferente das regras processuais comuns do dia a dia forense. Nesse local o detalhe é o ponto crucial que pode definir uma estratégia, reforçar uma prova ou fazer desabar um argumento. Mas não basta se atentar aos detalhes, analisar provas. É preciso também operacionalizar a capacidade de apresentar a sua tese e vender uma ideia para quem você precisa convencer, ou seja, seu público alvo são os jurados, mas não só eles. Ali, se encontra o Juiz togado, policiais militares, agentes de segurança, serventuários e a comunidade. Enfim, todos, observando que argumento será trazido pelos jogadores. Entre as provas e a vitória processual, há um trajeto interativo a ser explorado. Muitos profissionais da área têm ideias boas, teses adequadas, mas são incapazes de estabelecer conexões e mecanismos de influência sobre as pessoas. Uma tese boa sem acolhimento pelos julgadores é equivalente ao nada.

Então, o que diferencia os profissionais que atuam na área do júri de tantos outros? O processo penal está lotado de definições sobre ação, jurisdição, processo, enfim, sobre institutos processuais. Saber o nome das coisas na maioria das vezes não é pressuposto para que se possa articular combinações. Dominar somente um dicionário de conceitos não torna ninguém um bom jogador. Olhar a prova produzida apenas pelo ângulo de quem defende ou acusa, nada significa no cenário nebuloso vivenciado por experiências pessoais nas mentes dos senhores jurados. Pode-se, no limite dessas circunstâncias, ser um bom advogado, promotor ou até mesmo um professor. Dito de outro modo, saber o nome das coisas não significa saber como elas funcionam. Saber a história do processo, embora seja essencial e muito útil, não lhe garante um lugar ao sol no veredito final. Há certo percurso em que as premissas da vida e a experiência do mundo precisam se consolidar na cabeça dos ouvintes.

Discorrer sobre processo penal no Júri, exige certo percurso teórico e prático inexistente na imensa maioria dos jogadores, sobretudo, os desatentos e aqueles revestidos de um ego pessoal que despreza as provas esquecidas na folha amarelada do processo corroída pelo tempo. O inimigo do jogador do Júri é o ego. É aquele profissional que acha que sabe o que ninguém sabe, viu o que ninguém viu e aquele que presume que a prova trazida ou a sua descoberta é a melhor entre todas.

Ao adentrar no templo sagrado do Júri não há conhecimento sobre a causa que supere as engrenagens da vida com suas idiossincrasias e vicissitudes e, isso, apenas aqueles que possuem a alma revestida de humildade intelectual podem sentir. É necessário entender como o Direito Processual Penal na esfera do Júri se estabelece e funciona, qual a sua lógica, porque do contrário, não se compreende as funções nem o que se pode fazer para alterar os resultados e os votos de um conselho de sentença. Se você não entender os pressupostos, a magia do júri, a comunidade onde está inserido, certamente, não obterá um resultado satisfatório na defesa ou acusação de ninguém. Você pode acusar/defender/investigar acusados, mas isso não é evidência de que você sabe como as coisas funcionam realmente nesse ambiente.

Um advogado, defensor público, promotor e um delegado medíocre teoricamente, e que tenha um ego inflado pelo lugar que ocupam, comumente fazem um tremendo estrago, tanto para a sociedade quanto para a defesa de um réu acusado injustamente. Os jogadores, em especial os defensores e promotores, não conseguem perceber que embora estejam falando eventualmente da morte de alguém, o efeito e impacto do convencimento de sua tese só mudará se qualquer um dos lados trouxer esperança e vida para seus argumentos. Assim, buscar ampliar o horizonte sobre o que os jogadores de fato fazem, e não o que dizem que fazem, faz toda diferença. Enfim, saber como as coisas funcionam em cada singularidade interacional, como se articulam é essencial. E por fim, o fundamental: jogadores do Júri jamais devem levar a argumentação da outra parte para o lado pessoal. Caras e bocas e atitudes infantis, além de demonstrar despreparo é a confirmação de que a sua arena não é, nunca foi e jamais será essa. Vá fazer outra coisa. A vida e o Tribunal do Júri agradecem.

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