O Racismo Estrutural

No dia 20 de novembro lembramos sobre o racismo estrutural que assola o mundo. Se pensarmos de forma detida sobre este problema veremos que tal qual o nazismo, o racismo é uma fratura exposta que nunca, absolutamente nunca, deixará de existir. É como uma chaga que a humanidade vai ter que conviver como uma de suas maiores tragédias. Se o nazismo na Alemanha nos aterrorizou, a escravidão de uma pessoa por outra foi tão mais cruel e durou quase 400 anos.

A escravidão sempre nos envergonhará, cada vez que pensarmos sobre como ela se deu, qual a sua motivação e o seu objetivo. Simplesmente não há ações afirmativas, programas de igualdade ou qualquer coisa que o valha para amenizar os horrores dessa anomalia. A ideia do corpo subjugado pela cor e pelas suas diferenças tendo como resultado o sequestro da alma, é tão desumana a ponto de ter atravessado três séculos e se tornado natural. O racismo foi naturalizado entre nós e nos envergonha. Ele sobrevive entre nós.

Não é segredo que o racismo estrutural é baseado nas relações de poder onde a figura imaginária é o eixo central dessa perpetuação de signos que se arrasta ao longo do tempo onde o negro sempre foi retratado como uma figura estereotipada do mau. No Brasil, principalmente, até pouco tempo, nos meios televisivos, teatrais e jornalísticos as pessoas negras eram retratadas como figuras criminosas e como personagens secundários.

Essa via sempre reforçou ainda mais a ideia de que pessoas negras não podiam ser vistas de forma autônoma e estaria sempre associada ao seu grupo racial, se transformando de forma peculiar e relevante no processo penal como seres ameaçadores.

Isso ocorre também nas instituições de persecução criminal, tendo como exemplo a bem pouco tempo uma circular que orientava os policiais a abordar preferencialmente pessoas pardas e pretas nos bairros nobres de Campinas. Cartilhas foram distribuídas tendo como figuras pessoas pretas como símbolo de criminosos que aterrorizavam a região.

Segundo especialistas, isso faz com que existam gatilhos e automatismos mentais que idealizam pessoas negras como os principais indivíduos que precisam ser combatidos na sociedade, justificando a lógica de que os criminosos são criados bem antes do delito ocorrer. Da mesma forma, isso ficou evidenciado no documentário 13ª. Emenda que foi reproduzido pela Netflix apontando essa estigmatização do homem negro que matava e violentava. Um ser perigoso que precisava ser aniquilado.

Dentro do sistema de justiça criminal isso não é diferente, pois essas mesmas estruturas atuam e operam no imaginário de quem julga, acusa e defende. Sobre essa perspectiva, a prática é recorrente. A prova é muitas vezes rebaixada e a condenação se realiza com meros indicadores, fotografias ou apenas com a palavra dos policiais que efetuaram a prisão.

É preciso reconhecer que membros da justiça criminal não são neutros e não estão imunes de serem atingidos por esse imaginário que inferioriza e subalterniza as pessoas negras. Eles estão inseridos nessa tradição de racismo estrutural que opera no nosso país e que atravessa todas as nossas relações sociais.

Isso porque o racismo estrutural opera em três dimensões: no campo econômico, político e no subjetivo. Esses três elementos quando atingidos, propicia uma naturalização por vezes difícil de perceber, principalmente por aqueles que não o sofrem. No campo econômico todas as pesquisas indicam que há um desequilíbrio de trabalhadores e na renda que atinge sobremaneira as pessoas negras. No campo político, raras são as politicas públicas voltadas ao segmento negro no país, tendo a sua representatividade ainda um número muito aquém do necessário. O racismo então aparece apenas para a maioria das pessoas quando se mostra nas relações sociais e subjetivas. Nas partidas de futebol, nos supermercados e condomínios, sobretudo no nosso cotidiano. Só neste momento nos damos conta de que ainda existe racismo no Brasil. Mas ele sempre esteve aqui, essencialmente nas relações de poder, impregnado nas estruturas do nosso povo.

A luta contra essa chaga deve ser diária, longa e exige um comprometimento por parte de todos ao redor do mundo. Não há como resolver isso sem olharmos para o racismo dentro de nós. Ele passa necessariamente pela admissão de que somos todos racistas em desconstrução.

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