Solidariedade ou salve-se quem puder

Toda tragédia humana de alguma forma tem o poder de nos tocar, sensibilizar e até nos transformar. Na história da humanidade existem inúmeros exemplos de como acontecimentos trágicos fizeram populações inteiras se unir para o bem comum. Mas há algo de diferente nessa cilada chamada COVID 19 que o mundo atravessa. Embora o planeta tenha reagido rápido na confecção de vacinas para extirpar uma doença que já matou milhões e que num período de meses, centenas de vacinas sejam capazes de neutralizar o vírus, caminhamos a passos muito lentos para que elas cheguem às pessoas que verdadeiramente precisam.

Há ainda o receio dos pesquisadores, de que as novas variantes se alastrem no país, ou seja, as mutações virais que normalmente ocorrem quando o vírus se mantém por mais tempo infectando pessoas, encontrem nesse ambiente, um organismo capaz de propiciar um avanço mais infeccioso e letal, enfraquecendo sobremaneira as vacinas que já se encontram em distribuição. O Estado do Amazonas é um exemplo clássico de como comportamentos individuais de descaso da população em tomar medidas básicas de enfrentamento do vírus, podem agravar a situação.

Mais do que medidas de prevenção e estratégias coletivas, dependemos da conscientização das pessoas e isso tem se tornado um grande problema porque na maioria das vezes, muitas delas, não têm o menor sentido de empatia e solidariedade com os mais vulneráveis. Necessariamente dependemos do outro para que não haja o agravamento da doença e segundo os especialistas, ainda se está longe de um fim, apesar das vacinas já estarem entre nós.

Se levarmos em consideração os números apenas do nosso país e tratarmos de olhar com atenção sem nenhuma ideologia por detrás dessas considerações, iremos perceber que estamos diante de um verdadeiro tsunami. Por aqui, aproximadamente 240 mil pessoas já morreram. Chegaremos a março, quando completa um ano de isolamento, certamente em 250 mil óbitos. Nesse simples cálculo, iremos ter uma média de aproximadamente 21.000 mortes por mês apenas no Brasil. Nenhuma outra doença matou tanto.

Não há nenhum número que chega próximo a isso no mundo. Acidentes, tragédias, outras enfermidades não matam 21.000 pessoas mensalmente no período de um ano, num único país. Só nos EUA há 475.000 mortos na pandemia também em menos de um ano com uma média de 3.500 mortes/dia.

Se todas essas evidências comprovadas não servem de parâmetro para que mudemos nossos comportamentos e atitudes e se todas essas mortes não nos chocam mais, há algo de muito errado com as pessoas. O argumento utilizado de que a vida segue seu curso mesmo assim, soa como descaso e frieza a todos aqueles que se encontram enlutados com a perda de seus familiares.

Há muito o que fazer pelos mais necessitados, moradores de ruas, idosos isolados em asilos, índios e os mais vulneráveis que se encontram abaixo da linha da pobreza sem nenhum auxílio. O resgate da solidariedade, empatia e acolhimento é o nosso grande desafio. Todo esforço é pouco diante do caos que se instalou com a falta de renda, com a absoluta ausência de planejamento na compra e distribuição das vacinas e com a falta de humanidade de poucos, mas que tem impacto na vida dessas pessoas.

Recordo-me, que há algum tempo, quando a Catedral de Notre Dame se consumia em chamas na França, a imprensa divulgou que as pessoas estavam consternadas ao ver um símbolo religioso e sua história se perder. De alguma forma, queriam contribuir com grandes somas de dinheiro para ajudar na sua reconstrução. Empresários e políticos brasileiros foram às lágrimas. Havia uma empatia no ar nunca vista pelos ferros em chamas retorcidos da cidade luz.

Onde estão essas pessoas que sofreram tanto naquela oportunidade, com as pedras, ferros e o cimento da Catedral de Notre Dame? Algumas delas, são as mesmas que se recusam a usar máscaras, zombam da morte de milhares e frequentam Jurerê nas festas semanais. Todas elas dão crédito para a teoria do acaso de 250.000 mortos no Brasil. Nessa quadra da história, descobrimos que há bem pouca solidariedade e muito menos empatia. Há um salve-se quem puder. A comparação, reconheço, pode ser exagerada e injusta, mas o universo é avesso a essas comparações. A história jamais esquecerá.

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