Protesto na forma Intelectual. Assim faremos a diferença.

Pavel Morozov foi uma lenda na União Soviética de Joseph Stalin. Tinha 13 anos, vivia numa aldeiazinha na Sibéria e amava o comunismo. Foi morto em 1932, por vingança, depois de denunciar seu pai à polícia do regime. Ele falava mal do ditador dentro de casa. Vivia-se uma onda de prisões e execuções políticas na época e ninguém estava a salvo dos espiões. A máquina de propaganda do partido comunista usou a tragédia da família Morozov para transformar “o pequeno Pavlik” em exemplo para milhões de crianças soviéticas.

Como delator, ele colocara os interesses da revolução acima das lealdades familiares, por isso foi convertido em Herói nº 1 do regime.

Sórdido, não? Oitenta anos depois a gente se depara com gente que incentiva este tipo de coisa no Brasil. Algo eticamente equivalente, convocando estudantes a delatar os professores que se manifestarem criticamente.

A alegação singela e anêmica é de que:

“Muitos professores doutrinadores estarão inconformados, não conseguirão disfarçar sua ira e farão da sala de aula uma audiência cativa para suas queixas pessoais e político-partidárias”.

O engraçado disto tudo é que não se estimulam os estudantes a se opor intelectualmente aos seus professores a debater com eles, corajosamente, civilizadamente, as ideias que os incomodem. Tampouco os convidam a discordar ou a protestar de forma altiva – saindo, inclusive da classe, por exemplo – se depararem com posturas autoritárias em sala de aula.

Nada disso.

O que se pretende é incentivar jovens a “filmar ou gravar” as críticas dos professores seja qual for ela. Há estímulo para que os estudantes brasileiros delatem – anonimamente – como se fazia na União Soviética de Stalin, na Alemanha de Hitler, na China de Mao Tsé-Tung e no Brasil da “lava jato”.

Se, em vez de estimular os estudantes a debater às claras, incentiva-se a delatar, está se incentivando jovens e preparando-os para viver num estado policial, não numa sociedade livre. Se eles começam a gravar secretamente na escola, talvez passem a filmar também nas reuniões de amigos e no interior da família.

Daqui a pouco, vai surgir o vídeo de um adolescente que filmou seus pais escondido, falando mal de alguém no almoço de domingo. A escola, como instituição, costumava ser uma extensão mais ampla e mais livre da família. Deveria estar imune a esse tipo de policiamento, como reza a Constituição brasileira. Sonho com um país de professores apaixonados por ensinar, que ajudem nossos jovens a pensar com clareza e com coragem, a debater democraticamente e a conviver com a discordância.

Sonho com professores que sirvam de exemplo por sua inteligência e tolerância, pela amplidão de sua cultura e pela generosidade de seus pontos de vista. Não precisamos de delatores.

Delatores são corruptos que aparecem em vídeos da Lava Jato denunciando amigos em troca de vantagens legais e materiais para si mesmos. Não são – ou não deveriam ser – exemplo para ninguém. Mas tem muita gente, mas muita gente mesmo, que concorda com isso.

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