O que sobrará de nós após a Pandemia

O que sobrará de nós após essa pandemia? É a pergunta que me faço todos os dias. Nestes tempos sombrios em que vivemos ansiosos e atormentados pelo medo de uma doença imprevisível, as redes sociais se tornaram locais de xingamentos, terapia e desabafos. Nunca estivemos tão expostos para fugir do isolamento. Outro dia conversando com um amigo querido de longa data, ele me confidenciava que após a chegada da doença se trancou num sítio da família e isolado, sofria com a falta de boas companhias, rodeada de boa cerveja.

Se olharmos para tudo que vem sendo desconstruído ao longo do tempo por essa administração e da gestão caótica de saúde pública que vem sendo desenvolvida, o desânimo é ainda maior. No entanto, não desejo falar sobre esse governo deplorável e desumano que todo dia nos traz algo ainda mais desolador com a sua falta de sensibilidade e escárnio sobre vidas humanas.

Sinto mesmo que a pandemia ameaça rachar as nossas relações, nossa perspectiva e os sonhos que passamos a acalentar durante nossa trajetória. Há muito tempo não consigo encontrar meus amigos, meus alunos e muitas das pessoas que amo por este país a fora.

No início da pandemia tínhamos encontros virtuais, a tela cheia de amigos, e era acalentador. Mas, com o tempo, esse recurso foi ficando desgastado. Seres humanos que somos, precisamos de contato físico, de olhar os olhos do outro, de se abraçar. Tenho a impressão de que fomos renunciando aos encontros virtuais e retrocedendo passo a passo ao interior de nossas bolhas. Lá temos estado desde então, em um silêncio angustiado.

Alguns dizem que resistiremos a isso tudo, pois as amizades em tempos assim se solidificam atravessando tempestades, mas cá comigo, tenho muitas dúvidas sobre essa distância e a falta de contato físico com as pessoas. Além disso, há um deserto avançando sobre todos nós. A dor nos torna resilientes, eu sei, mas se é certo que nos tornamos mais fortes diante dessa travessia, acho que estamos ficando mais frios e insensíveis diante de tantas mortes inexplicáveis.

Não tenho nenhuma dúvida de que o que estamos passando é fruto da ordem natural das coisas. Vírus é algo que anda no universo há bilhões de anos e sempre irá ameaçar as formas de vida presentes. Não há nenhum espanto sobre isso. Desde que o mundo é mundo essas ameaças estão aqui entre nós. Mas o que surpreende é a forma como estamos vivenciando essa fase.

É assustador perceber que um monte de gente chutou o pau da barraca e está se aglomerando sem máscaras nas praias e festas, inclusive em ambientes fechados. O que esse pessoal insensível tem na cabeça? Se centenas ou milhares se reúnem em aglomerações, a transmissão acelerada do vírus entre eles vai ser levada para fora, aos ambientes de trabalho e de família em que eles convivem. É só uma questão de tempo. Apesar de saber disso, essas pessoas, conseguem duvidar da ciência e por em dúvida as restrições baseadas em dados empíricos reunidos ao longo de centenas de anos de diversas organizações centenárias. Oxford tem quase mil anos de história.Em seus quadros, já teve 30 prêmios nobel. Berço de Stephen Hawking.
Fiocruz tem mais de cem anos. Berço do gênio reconhecido internacionalmente Oswaldo Cruz. Sinovac, mais 20 anos. Butantã, mais de cem anos e considerado um dos principais centros científicos do mundo. Berço de Vital Brasil. Pfizer, mais de 150 anos de história e abriga milhares de cientistas focados no desenvolvimento de novas terapias.
Eu gostaria sinceramente, que fosse diferente e que os jovens pensassem dez vezes antes de tomar atitudes que colocassem a eles e às suas famílias sob risco de contaminação. Desejaria que a polícia agisse com civilidade e firmeza para impedir as aglomerações tanto de pobres como de ricos da mesma forma, corrigindo esses desvios éticos e morais. Sonharia que a vacinação fosse isenta de privilégios e que avançasse rápido. Mas infelizmente no Brasil continuaremos com medo da solidão, temendo pelo futuro das nossas famílias, sentindo uma saudade imensa de nossos amigos e submetidos ao teste interminável da ausência e do silêncio. O que sobrará de nós?

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