O real valor do Estado nos momentos de Crise.

De repente, não mais do que de repente, um vírus põe a prova governos, teorias, pesquisas e a pós verdade trazida em tempo de fake news. É duro ter que reconhecer, que as ideias neoliberais desabam quando apenas o que se tem, é a certeza da morte.

De repente os grandes grupos econômicos tornam-se bons, liberam suas plataformas gratuitamente para a população e tem que reconhecer diante da opinião pública que nem sempre o capital é o mais importante.

De repente aqueles que defendem o Estado mínimo correm desesperadamente em busca desse mesmo Estado que querem destruir.

De repente brota de todos os cantos um monte de gente boa de coração em socorro dos mais idosos, pessoas mais suscetíveis à doença, se oferecendo para fazer compras nesse momento tão difícil que atravessa a nossa frágil humanidade. De repente a pesquisa tão desprezada por esses malucos que ascenderam ao poder, é nossa única saída. E de repente não mais do que de repente, valores tão desprezados ultimamente pela classe mundial são confrontados pelas circunstâncias que colocam uma posição clara e uma discussão pertinente a respeito dos valores da sociedade em que vivemos.

Cientistas, professores universitários e funcionários públicos são desprezados e mesmo perseguidos pelas forças do obscurantismo de mercado que tomam conta do planeta, sobretudo do nosso país. Mas, na hora que um vírus mortal nos ameaça, é dessas pessoas sistematicamente desvalorizadas que a sociedade espera respostas e soluções.

Passamos os últimos anos mergulhados no mantra odioso do “cada um por si”, assistindo políticos que defendem o abandono do Estado, da ciência e da cultura, gente que acredita na privatização e a mercantilização de tudo. Para eles, a única finalidade da vida é o lucro.

Sob influência dessa ideologia, viramos as costas para os interesses coletivos – para as escolas públicas, para a saúde pública, para a aposentadoria pública – e nos tornamos todos “empreendedores”: pequenos capitalistas sem capital e sem solidariedade, adoradores do dinheiro, desconfiados do governo e dos impostos, fãs de bilionários sem escrúpulos que defendem a lei da selva social.

Agora, por causa do coronavírus, por causa das mortes, do medo e da insegurança mundial que ele provoca, estamos sendo forçados a repensar nossas escolhas. Elas afinal determinam a forma como vivemos, e também a forma como podemos morrer. Se o capitalismo desaba, os hipócritas aparecem.

Não adianta ter um seguro de saúde milionário se o hospital está lotado e não há leitos ou UTIs disponíveis. Se o governo não fizer um bom trabalho de contenção e combate à epidemia, o vírus se espalhará de forma a ameaçar a vida de todos, mesmo aqueles que têm mais dinheiro.

Nossa principal esperança nessa crise é o sentido de solidariedade, aquele que faz com que um médico e um enfermeiro se exponham a doença para cuidar de seus pacientes, aquele que sugere aos jovens que fiquem em casa para não disseminar uma doença mais perigosa para os velhos.

Essas são coisas que o dinheiro não pode comprar, porque não estão à venda no mercado. São valores, bens públicos, posturas éticas que fornecem sentido à vida comum. Sem esses valores coletivos, a sociedade não passa de um amontoado disfuncional de indivíduos desesperados, (Mad Max) uma guerra de todos contra todos onde não há horizonte ou redenção.

Nos últimos três anos, assistimos passivamente à tentativa de destruir o sistema público de saúde pela falta de investimentos, com a intenção maquiavélica de jogar mais gente nos braços dos planos de saúde. Mas, quando aparece uma crise como a do coronavírus, uma ameaça monumental, é com o SUS que todos contam para salvar vidas e prover proteção e cuidados.

Esperemos que depois da pandemia nós nos lembremos de quem foi essencial para preservação da vida e da civilização em nossas cidades acossadas pelo vírus – e que saibamos defender o trabalho dessas pessoas e instituições como algo que nos pertence, como algo essencial à nossa própria existência.

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