O mundo virou ao contrário e ninguém reparou. Cientistas, virologistas, pesquisadores e todos, absolutamente todas as pessoas que passaram uma vida inteira estudando sobre vírus e pandemia no mundo está errada, mas o nosso Presidente está correto. Ninguém tem nenhuma dúvida que uma pandemia destrói economias, reformula o mundo e relembra as pessoas que o capital não é tudo, principalmente num mundo como o nosso.
Acompanhando as redes sociais, chama a atenção o número de críticas de leigos, sem base em dados, sobre as estratégias adotadas pelos especialistas encarregados de enfrentar a propagação da Covid-19. A bola da vez é Economia versus Isolamento social.
Em tempos de negacionismo científico, nada menos surpreendente! Se a ciência não me convém, rejeito seus achados ou construo teorias conspiratórias. Há pessoas que acreditam piamente que os chineses “comunistas” criaram o vírus de forma proposital para derrubar a economia no mundo.
O que assusta é que existe um fundamentalismo político obscurantista de tal modo que chega não mais a causar riso, e sim medo. De outra forma, pessoas informadas e sensatas tendem a não cair nessas armadilhas quando se trata de saúde, mas isso nem sempre ocorre quando o tema é desbordado para a política e a área econômica.
No Brasil, se a pandemia fugir ao controle, a situação nos hospitais será uma tragédia que como sempre no nosso país é anunciada bem antes de ocorrer.
Do alto da sua espetacular ignorância, o Presidente diz, irresponsavelmente, que todo mundo deve voltar ao trabalho, menos os grupos de risco – quer dizer, idosos e pessoas com alguma doença que as torne mais vulneráveis ao vírus. Isso vem sendo chamado de isolamento vertical. A tese do presidente e do grupo ao redor dele é que o estrago que ocorrerá na economia com a quarentena de dois meses é maior do que os danos da própria pandemia. Bolsonaro acha que é melhor que algumas pessoas morram do que permitir que a economia entre em colapso.
Quem são as fontes das afirmações cada vez mais tresloucadas do presidente da República? Quem está lhe dando garantias de que poucas pessoas morrerão de coronavírus? Quem garante a ele que o tal isolamento vertical produz algo diferente de uma catástrofe? Dito isso, assistimos atônitos, nas redes sociais, mensagens de algumas pessoas sensatas argumentando que Bolsonaro tem razão ao menos em um ponto: se as pessoas não puderem trabalhar, teremos uma catástrofe ainda maior, uma depressão econômica como nunca se viu, cujos efeitos seriam tão ou mais mortais que o do próprio vírus. A essas pessoas prefiro dizer que não sei se é possível comparar o número de mortes causado por uma eventual depressão econômica com aqueles provocados pelo combate eficaz à pandemia. Nem sei se é correto fazer essa conta.
Quando se trata de vidas, é preciso ter cuidado.
O que sei, com toda certeza, é que um imperativo ético nos obriga como seres humanos a salvar o maior número de vidas agora, enquanto pudermos da forma que pudermos com todos os esforços que se façam necessários, da parte dos cidadãos e, sobretudo, principalmente do governo.
Acho que é preciso uma insensibilidade atroz, muita coragem, nenhuma solidariedade e uma desfaçatez sem tamanho dizer em alto e bom som que alguns terão que morrer para que outros sobrevivam. Normalmente pessoas que dizem isso, têm ótimas condições de vida, moram em locais fora da quebrada e estão perdendo dinheiro em seus próprios negócios. Isso é dito por gente que não está nem aí para o outro, por pessoas que estão na linha de frente, inclusive pelos seus entes queridos. O melhor seríamos todos ficarmos isolados por um determinado período para que não haja colapso. O vírus não circula, quem circula são as pessoas.
Se o homem que foi eleito para dirigir o país não tem condições de assumir esse papel, de liderança, o que está óbvio que não tem, ele que se ponha de lado e dê lugar a quem tem estatura. Neste momento de emergência mundial, o Brasil não pode ter na presidência um defensor irresponsável dos interesses mesquinhos do mercado.
Fiquem em casa!!