Warat e a Pandemia

Há cerca de dois anos atrás, recebi a incumbência de dar aulas de Mediação e Arbitragem, conteúdo que foi cindido do Código de Processo Civil e ganhou autonomia em algumas faculdades, tendo como narrativa de fundo, as diferentes formas de abordagem para um bom acordo, técnicas de negociação e administração de conflitos.

Como sempre acontece nesses casos, a missão que os professores recebem normalmente é atuar em casos de emergência, fora da sua área de atuação ou de sua especialidade e para tanto os profissionais precisam de um tempo para se preparar. Foi nessa época que busquei uma base teórica para enfrentar o semestre. De algum modo, naquele momento, a mediação me escolheu e eu aceitei o desafio.

Luis Alberto Warat foi minha inspiração para trabalhar com aproximadamente 250 alunos semanalmente, jovens vindos de todas as regiões do sul de Minas e com uma infinidade de conflitos, e sonhos, muitas vezes divididos. Precisei entender o pensamento do Mestre.

Warat trabalhava com a sensibilidade. Um desejo de superação da cultura jurídica da modernidade tendo como pretensão, desvelar a verdade na busca da resolução dos conflitos. A possibilidade das partes em se colocar no lugar do outro para enfrentamento de um problema que na maioria das vezes só mesmo os eventuais litigantes tinham a resposta para a solução. Um encontro transformador de pessoas em conflito que encontram em si mesmas, as respostas para as suas diferenças.

Passados esses dois anos e diante de tudo que temos vivenciado, espero que todo esse esforço e afeto, tenha feito alguma diferença na vida dos muitos jovens que frequentaram a minha disciplina. Espero que tenha surtido algum efeito. E espero ainda sinceramente que todas aquelas aulas tenham tocado aqueles corações tão jovens, para que hoje possam permanecer em casa em respeito e amor aos mais velhos.

Que eles hoje possam alcançar a compreensão que, ao negligenciarem os alertas das autoridades sanitárias indo para barzinhos e festas clandestinas, estão colocando em perigo, não só seus entes queridos, mas sobretudo, pessoas que outros também amam. Os milhares de amores de alguém.

Nada justifica a aglomeração, a falta da máscara e a ausência absoluta de empatia num país da nossa dimensão e não há cálculo matemático ou financeiro que faça a gente concordar com isso. As escolas devem voltar, a economia deve ser reativada, mas por qual preço? A morte dos mais vulneráveis? Utilizar a teoria darwiniana em pleno século XXI como o mais forte sobrevive é de uma insensibilidade sem tamanho.

Tudo isso deve ser feito com muito cuidado e com um planejamento metódico. Cento e Oitenta Mil mortos de uma única doença no período de apenas nove (09) meses não pode ser considerado algo banal e sem importância. A verdade é que enquanto outros países fizeram a lição de casa, nós aqui ainda estamos caminhando lentamente com passos de formiga e sem vontade. Não há plano de imunização, não tem seringa, não tem vacina.

Não sabemos ainda por quanto tempo vamos viver dessa forma, pois a chegada da vacina não trará a normalidade para as nossas vidas. Será preciso ainda responder muitas perguntas antes de passarmos a viver naturalmente. Algumas delas não são de fácil compreensão. Por quanto tempo estaremos imunizados? Ao tomar a vacina, apesar de estarmos imunes, ainda transmitiremos a doença aos que ainda não tomaram? Estamos imunes a todos os tipos de mutações do vírus? O fato é que as perguntas são duras e não são simples, muito menos as respostas.

Enfim, ao estudar Warat naqueles dois anos, não consigo responder de verdade, se podemos ensinar alguém a ser sensível e empático aos outros. Buscar o coletivo em detrimento de sentimentos egoístas que todos nós possuímos. Afastar as nossas sombras. O que descobri neste pouco tempo é que para que aconteça a resolução de um conflito ódio, amor, ansiedade, tristeza e dor devem estar presentes, são todos eles componentes necessários para que algo seja transformado. Desde março, quando tivemos que parar, reunimos tudo isso num único lugar. Esses sentimentos estão todos aqui.O que fazer com eles? Com a resposta o Mestre: “o amor

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